Está à porta o DIA INTERNACIONAL DA MULHER para fazer lembrar quão enormes foram os passos dados por imensas mulheres ao longo dos séculos. Foram esses passos, essas audácias e ousadias corajosas que proporcionaram a algumas mulheres o respirar mais livre que hoje se sente ainda mas, para lembrar também que há muito caminho ainda a desbravar a nível mundial para que as guerras sejam a capa perfeita para castrar e violar mulheres e crianças. Para que se deixe de usar a palavra tradição com orgulho para justificar mutilações no feminino, tantas humilhações físicas e psicológicas. Mas, apesar de aqui estar em prol de atitudes humanas que libertem o nosso caminhar e tragam paz numa existência que deveria ser de complementariedade e, nunca, de guerras complexadas e complexas que tudo destrói. No entanto, ainda acredito nas qualidades do ser humano, temo-las diariamente, felizmente.
No entanto e, tal como refere o título, o tema mais importante aqui é o facto de existir tanta gente que se sente mais novo do que na realidade é. Gente que sente vibrar dentro de si uma energia e uma luz que a atira para a vida com garra e, no seu peito sinta que tem menos idade do que o Bilhete de Identidade indica. Sei que muitas pessoas o sentem, algumas o revelam e, outras o calam, sempre que se olham ao espelho. Neste teor resolvi colocar um texto escrito pela Rosa Lobato Faria intitulado MAZELAS.
"MAZELAS
Aos 77 anos, como é natural, aparecem-nos todas a mazelas, insignificâncias: uma dor aqui, uma dor ali, nas costas, na perna, na cabeça, uma pequena coisa na pele, na unha, no olho. Não ligo nenhuma. Porque a minha pior mazela é não acreditar que tenho 77 anos.
Eu bem me farto de dizer aos quatro ventos a minha idade para ver se interiorizo esse facto, mas, por dentro, estou na casa dos trinta, vá lá quarenta, e não passo daí.
Setenta e sete anos? Que loucura!
Tenho sempre tanta coisa para fazer, para acabar, para ler, para escrever, tanto lugar para visitar, tanto museu para ver e depois as mazelas - ai! -, mas vou, porque tenho trinta anos e, evidentemente, tenho que ir.
Não tenho a noção de ser uma senhora velha. Digo Estava lá uma velhota, ou imaginem que uma velha... Estou a falar de pessoas provavelmente mais novas que eu, mas não me enxergo. Até quando irá durar esta idade subjectiva que não me deixa envelhecer tranquilamente?
Só quando me oferecem o braço ( já caí na rua e parti a perna, mas nem assim...), quando me sentam no lugar de honra à mesa, quando me dão assento na direita no automóvel, quando não me dirigem galanteios (que estranho!), acordo para a realidade: ai, é verdade, tenho 77 anos, que maçada...
Últimamente, tive (ou tenho, ainda não percebi) cancro de mama. Como acho que Deus não me ia mandar esta doença só para me chatear, abri uma campanha de sensibilização (televisão incluída), para que as mulheres façam mamografias. Transformei a porcaria da doença numa coisa positiva. Passei os trâmites habituais: operação, radioterapia, etc. Tudo pacífico. Ainda por cima, o médico disse-me que era pouco provável que o cancro me matasse, porque na minha idade, as células já não são o que eram... Ai sim?
Tenho 77 anos, que alegria!..."
Rosa Lobato Faria"
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